“Estava pressentindo que levava Eliza para morrer”. Assim Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, começou a relatar sua participação no desaparecimento da modelo Eliza Samudio, de 24 anos, em junho de 2010, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo Macarrão, ele atendeu ao pedido do jogador que teria ordenado que a jovem fosse entregue para outras pessoas. “Eu sou pica! Sou o Bruno! Deixa comigo! Larga de ser bundão e faz o que estou mandando", teria dito o jogador, segundo Macarrão.
Saiba tudo sobre o julgamento
1º dia: Desgastante, primeiro dia de julgamento do caso Bruno é pouco produtivo 2º dia: Decisão de Bruno e denúncia de promotor surpreendem no 2º dia de julgamento
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Durante as três primeiras horas de depoimento, que teve início às 23 horas e seguiu até 4 horas, o amigo de Bruno falou sobre como conheceu a modelo e sobre as passagens que teve com a mãe do filho do goleiro, sem deixar claro se confessaria ou não o crime. A dúvida pairou desde a primeira resposta dada a juíza, que questionou se a denúncia contra o réu era verdadeira. "Em partes é verdade. Hoje tenho oportunidade de falar para a senhora, porque antes meus advogados não deixaram. Eu não sou esse monstro. Sempre quis falar. Hoje eu vou falar tudo e quero colaborar para a verdade dos fatos", disse Macarrão.
Em toda a oportunidade, o réu negou a existência do sequestro e cárcere privado de Eliza. Segundo ele, a modelo permanecia hospedada no Hotel Transamérica, no Rio, havia um mês entre os meses de maio e junho. “Ela só me ligava para falar de dinheiro e, quando eu tinha, levava para ela”, explicou. No entanto, no dia 4 de junho, Eliza teria procurado Macarrão inúmeras vezes e que ele teria ainda desligado o celular por alguns momentos.
Na mesma noite, o réu e Jorge Rosa foram jantar em um restaurante chamado “Rosas”, na mesma região do flat de Eliza. Macarrão diz que foi surpreendido ao encontrar a modelo no local, que teria “armado um barraco” e “xingado muito”. Em resposta a ela, o réu disse: “Calma, coração, a gente vai resolver isso”. Todos então teriam seguido ao banco para sacar a quantia de R$ 1.500 cobrada por ela. O carro era a Land Rover, que futuramente seria apreendida.
Durante a volta ao hotel, segundo Macarrão, Jorge estava muito alterado. “Me recordo que ele [o então menor] falou: ‘olha a mulher que o Bruno foi se meter’. Ele era usuário de drogas, mas não sei se estava drogado. E começou a ofender Eliza com palavras.” Em resposta, a modelo não teria deixado barato e retrucou: “Seu primo [Bruno] tá achando que é Rogério Ceni? Ele é um filho da p...!” Após a troca de insultos, com o carro já em movimento, Jorge teria então dado uma cotovelada na cara da Eliza. “A briga foi feia. Com o nariz sangrando muito, ela arranhou todo o braço dele”, disse Macarrão desmentindo a versão da polícia, que havia concluído que o sangue encontrado na Land Rover seria consequência de coronhadas na cabeça da modelo.
Entrega de Eliza
Após relatar como conheceu Eliza, sobre as brigas - por dinheiro - entre a jovem e o goleiro, e sobre as viagens entre o Rio e Minas Gerais nos dias que antecederam o crime, o réu começou a dar sua versão do desaparecimento. Segundo o acusado, Macarrão e Jorge, primo do goleiro, levaram Eliza até a pessoa que Bruno teria ordenado, em uma Ecosport.
“Quando cheguei lá [na Toca da Raposa], tudo foi muito rápido. Não é que eu seja bundão, apenas não me envolvo com coisas erradas. Só deixei e saí correndo, quase bati o carro no poste”. Para a modelo, segundo o réu, foi dito que estava sendo levada para o apartamento que Bruno havia dado para ela. O ex-goleiro teria orientado Eliza a seguir com o ocupante do veículo, modelo Palio Preto. “Eu estava apavorado, não vi nada”.
Macarrão disse que ficou abalado com toda a situação. Passou a ligar para a mãe todos os dias e evitava conversar com o ex-goleiro sobre Eliza. Preferiu se calar. “Eu guardei isso tudo por 2 anos, quatro meses e 22 dias. Não aguentava mais. Não sou esse monstro que todo mundo colocou. Não sou traficante." Dizendo não ser mais o irmão do goleiro, a quem antes dedicou uma tatuagem, o réu não escondeu que tem medo de morrer.
“Não fui eu quem acabou com a vida do Bruno, ele que acabou com a minha vida. Vou ser um arquivo vivo, mas faço isso porque minha família está sofrendo e meus filhos estão crescendo. Tenho medo de morrer”, disse chorando muito. Se dizendo arrependido por estar envolvido no caso, Macarrão citou o nome da vítima do crime apenas uma vez. Após perguntar se Sônia Fátima de Moura, mãe da vítima, estava na plateia, o réu disse que “se soubesse onde o corpo de Eliza está, seria o primeiro a falar”.
O réu foi questionado pela promotoria sobre quando veio a conhecer Bola. Segundo Macarrão, eles se conheceram pessoalmente apenas “dentro do sistema [prisional]”. No entanto, o promotor ressaltou que, após a quebra de sigilo dos celulares de Macarrão e Bola, foram contabilizadas quatro e seis ligações feitas um ao outro, respectivamente.
As chamadas teriam sido efetuadas entre 15h06 e 20h52 do dia 10, suposta data da morte da Eliza. Macarrão então alegou que falou com Bola algumas vezes, por telefone, para intermediar o filho do ex-policial que joga futebol. "Eu pensei em ver uma vaga em algum lugar para o menino. Até falei com Bruno sobre isso. Falavam que ele era bom, cresci o olho financeiramente".
No entanto, durante a última ligação registrada, às 20h52, as posições dos aparelhos coincidem com a região da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Tal fato iria contra a declaração anterior de Macarrão, que havia informado estar em outra localidade. Apesar do confronto de versões, o réu foi enfático: “Não me encontrei com Bola”.
O depoimento de Macarrão durou aproximadamente 5 horas e encerrou o terceiro dia do julgamento, que teve a sua sessão mais longa desde o início, com aproximadamente 19 horas de duração. Nesta quinta-feira (22), o julgamento está previsto para recomeçar às 13h30, quando deve começar a ser ouvida a outra ré, Fernanda Gomes, ex-namorada de Bruno.
Expectativa
Essa foi a primeira vez que um réu envolvido no processo assume, em juízo, ter participado do desaparecimento da ex-modelo. O teor do depoimento de Macarrão foi considerado pelo assistente de acusação Cidnei Karpinski, que representa o pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio. Ao iG , o advogado chegou a afirmar que Macarrão poderia assumir toda a culpa para dar chance de absolvição a Bruno no próximo júri, marcado para o dia 4 de março de 2013. Mas não foi isso o que aconteceu.
A versão de Macarrão vai de acordo com suas reações durante o julgamento, já que o réu sempre reagia negativamente contra os depoimentos de testemunhas que o incriminavam e desqualificavam suas atitudes. Durante a apresentação de vídeos da promotoria, que exigiu trecho de reportagens das emissoras Record e Globo, Macarrão chegou a ficar inquieto em seu assento e fazendo sinais de negativo com a cabeça. Outro depoimento que causou grande reação no réu foi o da delegada Ana Maria dos Santos, ouvida na terça-feira (20) .
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