Um homem caminha pela rua, se
aproxima de latas de lixo e recolhe peças de roupa. Encontra um casaco e veste
ali mesmo, no meio da rua. Pouca gente poderia imaginar que esse homem já
vestiu a camisa amarela da seleção brasileira.
Perivaldo Lúcio Dantas ficou
famoso como Peri da Pituba. Ganhou projeção nacional no Bahia, no final da
década de 70. Nascido em Itabuna, interior da Bahia, ele foi lateral direito do Botafogo, passou pelo Palmeiras de Telê
Santana, que o convocou para a seleção em 81. Fez parte do histórico time de
82, com Falcão, Zico, Sócrates. Contra a Tchecoslováquia, salvou um gol.
Depois de muitas lesões,
Perivaldo desapareceu das notícias. Trinta anos depois, o Fantástico encontrou
Perivaldo pelas ruas de Lisboa.
Depois que parou de jogar futebol
no Brasil, no Bangu, em meados dos anos 80, pouco se sabe da vida de Perivaldo.
Ele diz que foi para a Coreia, na Ásia, e depois veio para Portugal. O
Fantástico procurou a Federação Portuguesa de Futebol e a informação oficial é
de que não há registro de nenhum jogador brasileiro chamado Perivaldo Lúcio
Dantas.
Mas na Feira da Ladra, em Lisboa,
é fácil achar Perivaldo vendendo sua mercadoria.“Vamos embora, compadre. Aqui,
o que é bom aqui. Se quiser coisa boa, está aqui na banca do Peri da Pituba”,
anuncia o ex-jogador.
Perivaldo tinha fama de ser um
jogador carismático e, mesmo Feira da Ladra, ele continua extrovertido. “Sete e
sete são catorze, três vezes sete é 21. Tenho sete amores no mundo, mas não
caso com nenhum. Paranauê, paranauê, Paraná”, brinca ele.
Perivaldo diz que vive da venda
de peças de roupa. “Você não viu que os cara me chamou de Grifalvo? Mistura de
grife com Perivaldo?”, conta para equipe do Fantástico.
Fantástico: Eu estou vendo que
você tem dificuldade de vender algumas coisas. O comércio não está bom aqui na
feira...
Perivaldo: Como agora está
chegando o inverno, agora, eu preciso arrumar uma nova coleção.
Fantástico: E onde você arranja
as coisas para vender aqui?
Perivaldo: Tem as lojas de saldo.
Você começa a comprar, investir. Dá para se ganhar um bom dinheiro.
Mais tarde, à noite, encontramos
o lugar onde Perivaldo dorme. O Fantástico descobriu que Perivaldo, um
ex-jogador do Bangu, do Palmeiras, do Botafogo e da seleção brasileira, hoje é
um morador de rua em Lisboa.
Perivaldo lembra dos tempos mais
confortáveis, em que tinha artigos de luxo.
Perivaldo: Tive um bom relógio,
que era um Rolex, que custou para mim agora uns 70 mil euros. Em joia, eu tinha
para mais de 200 mil euros. Foi tudo que o dinheiro foi acabando”.
Fantástico: Aí você foi vendendo,
foi vendendo...
Perivaldo: Eu tinha uma casa, uma
casa que eu vendi, praticamente vale em dinheiro português uns 300, 400 mil
euros.
Fantástico: Aqui em Portugal?
Perivaldo: Não. Tinha lá no
Brasil. Era muito dinheiro. As minhas luvas chegaram a 100 mil dólares por dois
anos. Não cumpri. Só fiquei lá 8 meses, 9 meses. Me deu vontade de vir embora,
larguei tudo. Foi assim a minha atrapalhação. Eu me prejudiquei a mim mesmo.
“Quando eu cheguei na seleção
brasileira, Zico e Junior foram um dos meus maiores amigos, que me deram mais
apoio”, confessa Perivaldo.
“A gente fica muito chateado. Ele
era um cara muito engraçado, que adorava pegar no pé dos companheiros. Tava
sempre brincando. A gente só espera que ele possa ter força, como ele tinha
quando ele jogava, para poder sair dessa situação”, conta o comentarista
Júnior.
Fantástico: Por que você está com
essa ideia de voltar para o Brasil? Deixar Portugal?
Perivaldo: Sinto muitas saudades
da minha mulher também, da Virgínia, dos meus filhos. Os meus netos sempre
estão me cobrando. Meu avô dali, meu avô daqui.
“Temos que abraçar o Perivaldo. É
um atleta que teve história no Brasil, está numa terra distante. Se a questão
for ele voltar para o Brasil, vamos patrocinar a volta dele”, promete Alfredo
Sampaio, vice-presidente da Federação Nacional dos Atletas de Futebol.
Espalhando alegria pelas ruas de
Lisboa, Perivaldo espera pela volta ao Brasil
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